sábado, 30 de outubro de 2010

J. número dois

Queria dizer que o dia começou com o ódio. Pensar que as coisas serão alcançáveis enquanto vivas. Minha impaciência é um sintoma do medo da morte. A liberdade custa e é larga. É tarde, há noite lá fora. Mas a imagem do corpo dela não cessa de invadir minha lucidez. Acho que estou me perdendo. Mas sou denso e vermelho. O fato é que estou distante da coisa-ela-mesma. E o acaso guarda a possibilidade da morte. Como explicar que minha vontade é de ter o corpo nos olhos, que não deve existir maneira outra de possuir. A paixão pelo inominável. Essa é a dor dos poetas. Agora sou uma necessidade de nomear que, de antemão, sei: será frustrada. Meu dia começou com o ódio. Mas há paciência em todo o corpo. Acima de tudo, a de existir. Enquanto existir, haverá. O que, pergunto eu aos deuses todos. Há noite lá fora e estou confuso. Meu corpo é feito de sensações-agora. O espanto tem suas ambiguidades. É preciso não conhecer uma coisa para se espantar com ela. Há formas e formas de se saber as coisas. Espantar é um exercício do olhar. Poesia é feita de espanto. E só que meus olhos estão feitos à pedra.

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