terça-feira, 2 de novembro de 2010

J. número cinco

Abrir os olhos. Acordei com um despir-se dos mais em vida. Então, os olhos de J. àquela noite me foram tudo que, a mim, me importava. Não pensar no futuro, que os deuses são incertos, crianças com vontades próprias. Estar vivo pela memória com o gosto da boca dela. Perceber coisas nas quais minha ansiedade vermelha não anda deixando eu pousar os olhos. Perceber o terremoto-sem-futuro que foram os lábis de J. aos meus. Carnais. Achar um nome-falso para esse acontecimento: volúpia?, não-tempo?, não-nome? Em minha vida J. está em vermelho até o dia último. Só pelos ecos. Pelos poucos segundos: os olhos dela mirando os meus. Perceber que isso vale uma vida inteira. Ver que o que peço é nada. Perceber que tive uma coisa quase-sem-limite. Mas houve. E isso me está como sensação (sobre?)natural larga e ressonante. O que escrevo é uma ode. Que sempre será pouco o que se dirá sobre J.. Não haverá nome para essa coisa-quase-sem. É de uma espaçosa e abusada dificuldade falar sobre J., porque meu corpo sua dias para dar limite àquilo a que não achei um nome. O que será, que seja. O que foi, a isso não ouso querer transmutar. O que houve quando havia nossos lábios e línguas e cheiros, a isso meu corpo existe. Que esse texto também é uma ode à memória. Em nosso tempo?, meu deus. O que houve, não pode ser retirado. E pulsa, vermelho, nestas mãos que lhe escrevem, J..

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